A Cidade

A cidade que Oswaldo Leite fotografou 

Oswaldo Leite começou a fotografar Londrina em meados da década de 1940, com produção mais volumosa nas décadas de 1950 e 1960 e, não tão volumosa, mas significativa na década de 1970. A partir de meados da década de 1940, com o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo passou por um período profícuo de reconstrução e prosperidade, alavancando no número de empregos e melhorando a renda dos trabalhadores. Ou seja, o mundo voltou a comprar, a consumir, a investir em melhoria de vida e no prazer de comer melhor e passear mais. Isso foi uma benção para o Brasil, que passou a exportar muito mais. E, nessa época, nosso principal produto de exportação era o café, que o mundo todo aprendeu a gostar, consumir e transformar em prazeroso hábito.

Se o café era nosso principal produto de exportação e o norte do Paraná era o principal produtor nacional, vale lembrar que os lucros provenientes da negociação do café alavancaram o progresso de todo o norte do estado do Paraná, especialmente de Londrina. Foi a fase mais rica da história de Londrina. O dinheiro do café ergueu grandes prédios, construiu dezenas de casarões e mansões em endereços luxuosos da cidade, especialmente o centro e a Avenida Higienópolis, e propiciou a construção de grandes obras públicas, que contribuíram para a formação da identidade visual de uma cidade moderna e progressista, como era – e ainda é – Londrina, então reconhecida como “capital mundial do café”.

Fotografia de Celio Costa

São do final da década de 1940, da década de 1950 e do início da década de 1960 a construção dos Correios, do Fórum Municipal (hoje Biblioteca Pública Municipal), do prédio novo da Estação Ferroviária (hoje Museu Histórico de Londrina Padre Carlos Weiss), do prédio novo da Estação Ferroviária (hoje Museu de Arte de Londrina), do icônico edifício Júlio Fuganti, do imponente conjunto de edifícios do Centro Comercial, do Hotel São Jorge, à época considerado um dos mais luxuosos do Brasil, de vários arranha-céus no centro da cidade, do Cine Ouro Verde (à época considerado um dos melhores cinemas do Brasil), da barragem do Lago Igapó I, do início do saneamento urbano e tantas outras obras e melhorias. Quer queira, quer não, não se pode negar que a fartura de dinheiro com a qual o café irrigou Londrina e todo o norte do Paraná foi mola propulsora do progresso, crescimento econômico e desenvolvimento social de diversas cidade norte-paranaenses.

Na madrugada de 18 de juho de 1975 ocorreu a famosa “geada negra”, que dizimou mais da metade dos cafeeiros no norte do Paraná. Essa geada foi tão catastófrica que muitos agricultores acabaram dizimando seus cafezais e optando pelo plantio de lavouras renováveis, como soja, milho e trigo, sempre orientados e financiados pelo Crédito Rural Orientado disponibilizado, com carência e juros acessíveis, pelo Banco do Brasil, dentro do projeto do governo militar de modernização da agricultura. De repente, a fonte secou. O café que tanto havia irrigado a economia norte-paranaense, agora, pingava recursos a conta-gotas. Londrina precisou se reinventar. Precisou deixar de ser majoritariamente agrícola e investir na prestação de serviços, fortalecer o comércio, incentivar a indústria e, principalmente, transformar-se em um polo de pesquisa e ensino superior de qualidade. São da década de 1970 a criação da UEL, da Unopar, do Iapar, da Embrapa/Soja, apostas que deram muito certo e transformaram a cidade em polo de excelência na pesquisa agrícola, em medicina e na prestação de serviços. Mas o volume de obras públicas decresceu.

Assim, pode-se dizer que, apesar de não haver uma relação direta, coincidentemente Oswaldo Leite começou a fotografar Londrina no auge do café e parou de fotografá-la na descensão econômica da fruta. Com isso, não é de todo errado afirmar que Oswaldo Leite fotografou todo o progresso e toda a fartura que o café propiciou a Londrina. Sorte? Coincidência? Estar no lugar certo na hora certa? Um pouco de tudo e mais um olhar atento, documentador e apaixonado de um fotógrafo que conhecia Londrina como a palma de sua mão e era apaixonado pela cidade.